Igreja das Dores: Restauração revela pinturas escondidas em igreja de Cachoeira do Campo (Arquivo)
Intervenções na Igreja Nossa Senhora das Dores, no distrito de Ouro Preto, trazem de volta obras de arte sob várias camadas de tinta no forro e nas paredes
postado em 30/05/2017 06:00 / atualizado em 30/05/2017 07:33
Ouro Preto – Ressurreição de cores, formas e beleza. O restauro da Igreja Nossa Senhora das Dores, no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Região Central, traz de volta pinturas escondidas por décadas sob várias camadas de tinta no forro e nas paredes – em alguns pontos, até 10.
Na manhã de quinta-feira, a equipe do Estado de Minas conferiu o avanço do projeto de restauro, um quadro oposto ao de setembro de 2010, quando o tecnólogo em conservação e restauração Rodrigo da Conceição Gomes, presidente da Associação dos Amigos de Cachoeira do Campo (Amic) e coordenador da comunidade de Nossa Senhora das Dores, alertava para o risco de perda do templo construído em 1761 e considerado o mais antigo do país dedicado a Nossa Senhora das Dores, “conforme documento do Arquivo Ultramarino de Lisboa, Portugal”. Para ele, a intervenção significa “uma grande vitória dos moradores, que pediram providência às autoridades e fizeram novena”.
“Estamos felizes com o resultado de tanta luta. Esperamos muito para ver a igreja em obra. Ela é importante para Cachoeira do Campo, Ouro Preto e Minas”, diz a zeladora do templo e mãe de Rodrigo, Geralda Flaviana Araújo Gomes, de 68 anos. Para quem trabalha como marceneiro, atuar no restauro de uma construção do século 18 é uma experiência única, principalmente quando se refere à salvação dela. “A madeira estava cheia de cupins e com cera demais”, afirma Cláudio Braga, de 63.
ARTE COLONIAL A segunda fase, em andamento, compreende os elementos artísticos, no valor de R$ 590 mil e também com recursos do Funpatri, explica Débora, ao lado do restaurador Sílvio Luiz Rocha Viana de Oliveira, coordenador contratado pela prefeitura para essa área, e do arquiteto Paulo Hermínio Guimarães, responsável técnico pela empresa contratada. Depois de mostrar as delicadas flores na pintura do átrio, os três se dirigem à capela-mor, que guarda a pintura da santa e contém a inscrição em latim Consolatris aflito rum (Consoladora dos aflitos). “Tudo indica se tratar da representação de um ex-voto”, explica Sílvio, numa referência ao pagamento de uma promessa por um fidalgo retratado aos pés de Nossa Senhora das Dores.
O altar da capela-mor exibe um verde forte, achado “sob oito camadas de tinta de cinco cores diferentes”, mostra Sílvio, ressaltando o restauro da igreja, feito há 25 anos, por Zenith Inácio, viúva de Jair Afonso Inácio, criador do curso de conservação-restauração da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop) e com atuação no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Sílvio revela que, no caso da madeira, havia muita cera por trás, material usado durante muito tempo para recuperar as tábuas.
Outro ponto de destaque está nas paredes, algo também surpreendente para a equipe: debaixo de tinta, foi localizado um barrado com pinturas marmorizadas, no tom salmão e datadas de 1870-1880, creditadas a italianos que moraram na região no século 19. Também fiéis às cores que as prospecções mostraram, os restauradores decidiram por um tom bege para a parede sobre o barrado.
HISTÓRIA Construída em 1761 para as cerimônias da semana santa, a Igreja Nossa Senhora das Dores tem no forro o maior destaque. O que chama logo a atenção de quem entra é a ornamentação com os 15 painéis da nave, de inspiração medieval, representando a Paixão de Cristo, do horto das oliveiras à ressurreição.
Muitas histórias e lendas rondam a história da igreja. A imagem da santa de roca, conforme a tradição oral, chegou a Cachoeira do Campo em meados do século 18 portando várias joias, que desapareceram. “Contam que, sob os auspícios de uma mulher chamada Maria Dolorosa, a imagem percorria as casas do distrito angariando fundos para a construção da igreja. Outra antiga lenda afirma que os inconfidentes se reuniam no interior do templo para, do alto de sua torre esquerda, espionar o Visconde de Barbacena em seu palácio”, conta Rodrigo Gomes.
Memória
Luta pela preservação